VAGALUMEANDO

October 24, 2012

Num instante solitário entre montanhas e estradas desertas, vou me debatendo chamando isso de segundos.

Atravessando os longos e frios descampados, pelos túneis das tardes, onde pequenas gotas de memórias são capazes de mergulhar as mais ocultas palavras.

o ser humano suspira, agarra-se em invisíveis constelações, na matéria e no imaterial delírio, depois o declínio da perda, a dor de parto pela saída, não do feto mas da lastimante concentração de afeto com o que se perdeu.

No distante olhar superficial das coisas, apenas podemos lamentar, mas, no núcleo visceral onde provavelmente está a alma – intacta – há milhes de vulcões que se cuspissem todos os sentidos, sentiríamos por toda a eternidade – tudo – ao mesmo tempo.

 

De: Júlio Siqueira POEMAS PARA O LIVRO “ONÍRICO PERCURSO POR DENTRO DO MOVIMENTO”

 

Observando a Superfície

October 24, 2012

A obsessão por um antídoto
ressoa quase como um lapso,
uma ferramenta inabalável,
capaz de fazer jorrar
nos pés descalços do asfalto,
a síndrome pelo equilíbrio,
momentâneo,
eficaz,
raro,
o mundo basta-me para ter incertezas.

Uma pequeníssima peça teatral incolor,
atravessa – como um verme enlatado há séculos –
os cantos mais cegos da gestação do espaço,
onde atamos nossas redes frágeis, indefensáveis,
restos de estranhas correntes de pano,
ruidosas máquinas de estampa de invisibilidades,
uma risível fração de segundos é capaz de desmanchar toda a estrutura erguida pelo tempo, com suor e destreza e ainda afogar, com ancoras feiras de asas, a trágica certeza do que somos.

Poema de: Júlio Siqueira – Manifestos Invisíveis

A Impossível Palavra

October 24, 2012

https://i0.wp.com/1.bp.blogspot.com/-Mby6N9p3daM/T6F-mNWCfiI/AAAAAAAAAjo/iImiOz5RuXY/s1600/caminhos-cruzados1.jpg

No caminho que levará à submundos adversos,
onde as forças da natureza costuram botas invencíveis,
onde nossos pés costumavam fincar lugar nas profundezas,
um medo delirante encobre com um manto as certezas,
um gemido batiza longe da li as fracas percepções,
carros e passos frequentam embarcações flutuantes de gelo,
reagindo o olhar para dentro de um cubiculo,
onde pequenas gotas de toques, rendem, ensolaradas visões dos segundos.
Tudo isso na visao interna de mim mesmo,
onde a múltipla realidade age como um feixeque logo transforma-se num nevoeiro
no qual apalpo a face embranquecida.
Num instante quando a febre se dissipa nas redondezas
é quando o ser reage aos ventos que sopram trazendo caminhos.
É impossível para o ser, ser apenas uma palavra.

Júlio Siqueira/ Do Livro “Enter-ferência”